O novo filme da A24, “Guerra Civil”, estrelado por Wagner Moura, não é exatamente o que o trailer sugere, mas isso não significa que seja um filme ruim.

Ele se diferencia porque, embora a divulgação sugira um filme de ação com guerras e conflitos, a narrativa concentra-se em um grupo de jornalistas, mais especificamente sobre fotojornalismo, os riscos dessa profissão, e o quanto é necessário abrir mão da própria humanidade por ela.

A Guerra Civil é pano de fundo, sem tomar partido ou ser expositivo, sem citar direita ou esquerda, nem discutir as políticas democratas e republicanas dos Estados Unidos, mas se faz entender nas entrelinhas. Por exemplo, ao mencionar que o dólar canadense vale mais que o americano naquele momento, ou que o presidente atual está no seu terceiro mandato.

No filme, Lee e Joel, acompanhados por Sammy e Jess, precisam atravessar os EUA, divididos por uma guerra civil, até Washington para entrevistar o presidente que está prestes a perder a guerra por seus atos contra o próprio país.

Apesar dessa jornada, não vemos muitos conflitos. A história é contada do ponto de vista desse grupo de jornalistas que, durante a travessia, depara-se com os horrores da guerra. Ao mesmo tempo, cada um deles, com atuações espetaculares de Kirsten Dunst e Wagner Moura, tem seus próprios objetivos, motivações e conflitos internos, que são bem explorados dentro do que a narrativa propõe.

Gosto de como o filme é, em geral, apartidário. Embora como seres humanos tendamos a nos posicionar mais de um lado ou de outro, trazer essa perspectiva de neutralidade reflete-se nos personagens, que precisam manter a neutralidade em busca da foto perfeita e da entrevista ideal.

E quando se entra no terceiro ato do filme, o trabalho de som é incrível, proporcionando uma experiência quase em primeira pessoa, você se sente dentro do conflito e esse trabalho de imersão é feito com maestria.

Apesar da ausência de ação, “Guerra Civil” acerta ao concentrar a trama em seus personagens, fazendo você se importar com eles e entregando algo além do que você pode esperar de um filme que fala sobre guerra e política, algo tão próximo de nós.