Crítica | “Zona de Interesse” é brutal ao mostrar uma vida comum

Vai ser estranho te contar que Zona de Interesse é o filme mais brutal, nefasto e nojento que você irá assistir esse ano, mesmo não tendo uma cena de violência explícita, o longa-metragem de Jonathan Glazer é assustador ao mostrar uma vida comum, escondendo a barbárie que acontece em seu redor. Durante a maior parte do filme, ouvimos tiros, gritos, num som tão baixo que anestesia nossas orelhas, se torna quase um som ambiente, o latido do cachorro se destaca mais. 

Poderia ser um filme comum, sobre uma família que conquistou a ascensão social e vive tranquila em uma casa belíssima, se não estivéssemos na segunda guerra mundial, e se o pai não fosse um dos principais responsáveis pelo planejamento diário do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Esqueça as histórias de conexão com personagens dúbios, é apenas um filme sobre o dia a dia de nazistas, agindo com naturalidade perante ao maior genocidio da história da humanidade, por isso a câmera sempre se posiciona com distância, parece que até ela sente nojo dos protagonistas. 

O marido sente que está apenas fazendo seu trabalho, é brutal pensarmos na forma como ele executa suas ações sem qualquer sentimento de culpa, principalmente por não achar que faz algo de errado, ele trabalha da melhor forma possível para dar a melhor vida a sua família, quando chega em casa, abraça os filhos, e é uma inspiração ao mais velho, que enxerga o pai apenas como um trabalhador competente, que através de seus esforços, mora em uma linda casa, e trabalha em algo importante do governo. 

Quem segue essa visão é sua esposa, mas mesmo ela não sendo a assassina, talvez ela seja a mais nojenta do grupo de personagens nefastos. Ela tem orgulho total do marido e da vida que leva, talvez no fundo ela esteja apenas mentindo para si mesma, mas não importa, o que vemos em cena é uma mulher que se aproveita do extermínio para conseguir roupas novas, joias e se gabar para as amigas do lugar belíssimo que vive. É intrigante pensar o que se passa na cabeça dela, quando sua mãe vai visitá-la e tenta puxar uma breve conversa sobre o que está acontecendo ao seu redor, ela logo muda de assunto, parece não se importar, assim como não se importa com os barulhos do caos que permeiam seus ouvidos 24 horas. 

No geral é um casal comum, com seus problemas conjugais e que trabalham juntos pelo melhor da família, existe apenas uma cena de cada um onde vemos a maldade saindo de dentro pra fora, Glazer é sempre sutil em mostrar os personagens confortáveis em suas posições. 

Os filhos não tem tanto destaque, mas são parte fundamental do quebra-cabeça do filme, a filha mais nova, apesar de ter problemas para dormir, não aparenta se incomodar com o que acontece em volta, já o filho mais novo, tem uma curiosidade rápida de olhar para a janela e ver o que acontece, mas também desiste rápido, ou por falta de interesse ou por medo de uma repreensão. Todos esses personagens, em seus respectivos cenários contribuem com o tema da banalidade do mal, na visão do diretor, os nazistas não são pessoas sanguinárias possuídas pelo demônio, são pessoas com muita consciência da realidade, e isso os torna muito mais assustadores. 

Sinto que depois de uma hora onde não vemos nada, mas escutamos tudo, o filme queira partir para algo um pouco maior, me parece mais um medo de entediar o público do que qualquer outra coisa. O filme quase que abandona por completo os dramas fúteis da mãe, para dar ênfase ao pai em outro ambiente de trabalho, a partir daí o filme apenas se repete e para de sufocar o seu espectador.  Zona de Interesse é o tipo de filme que fica com você, é mais do que uma aula de história, é um lembrete sobre ela, da forma mais crua possível.

Tiago Vanhala

Zona de Interesse
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