Crítica | Todos nós desconhecidos e o amor que cresce da solidão

Adam, um escritor na faixa dos 50 anos, enfrenta um imenso bloqueio criativo em sua mais recente narrativa. Por um acaso fortuito, conhece seu vizinho Harry, a única pessoa residindo em seu silencioso prédio naquele momento. Londres, com sua solidão e silêncio, pesa sobre Harry, que, desesperado por companhia, rapidamente faz uma investida amorosa em Adam. Apesar de inicialmente assustado, Adam acaba cedendo e os dois desenvolvem um relacionamento romântico.

“Todos Nós Desconhecidos” é uma criação do diretor britânico Andrew Haigh, que buscou inspiração no livro “Strangers” (1987), do autor japonês Taichi Yamada, para contar a história desses dois amantes solitários.

Durante seu bloqueio criativo, Adam confronta seus traumas de forma intensamente visceral e triste. Ele é visto em longas cenas de diálogo com seus pais, falecidos quando tinha apenas 12 anos. A partir desses momentos, fica incerto para nós, a audiência, se Adam está meramente imaginando essas interações ou se possui algum distúrbio mental que o permite verdadeiramente ver seus pais. Contudo, esse aspecto acaba sendo secundário, já que a interação de Adam com seus pais e o profundo trauma de uma vida inteira de solidão conferem charme e brilho a “Todos Nós Desconhecidos”.

Com cenários limitados, poucos personagens de relevância e um marcante jogo de luz e sombra, o filme frequentemente assemelha-se a uma peça teatral, aquelas que provocam o espectador a decifrar os acontecimentos a cada fala. Convida o público a uma jornada melancólica e emocional, abordando desde a dificuldade de encontrar afeto dentro da comunidade LGBTQIAPN+ até os riscos que a solidão pode representar para a saúde mental.

“Todos Nós Desconhecidos” não é uma visualização fácil, podendo atuar como gatilho para algumas pessoas devido à presença de cenas de suicídio. No entanto, àqueles dispostos a explorar essa narrativa, o filme apresenta uma mensagem poderosa: o amor pode emergir em quaisquer circunstâncias, independentemente dos desafios enfrentados.

Gustavo Mendes

Todos Nos Desconhecidos
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