Crítica | Avatar: O Último Mestre do Ar triunfa nos fatores mais difíceis e peca nos mais simples
Não é segredo pra ninguém que uma adaptação em Live Action de Avatar: A Lenda de Aang (animação da Nickelodeon de 2005 que é um fenômeno mundial até hoje) é algo extremamente difícil de ser feito. Tanto que o último exemplo desse feito traumatiza os fãs até hoje e provavelmente atesta aos estúdios de Hollywood como uma obra que não deve ser tocada. Mas mesmo assim a Netflix, na sua busca incessante de uma nova franquia a nível Stranger Things que traga novos assinantes ao seu streaming que fica cada dia mais caro, decidiu apostar suas fichas (que custaram em torno de 120 milhões de dólares) nessa história tão amada e trazer para o mundo real a história do Avatar Aang.
É impressionante como ondas de popularidade sempre afetam o comportamento da indústria e faz ela se submeter a ações mais difíceis e mais caras, que muitas vezes nem são benéficas no final das contas. O reflexo da onda gigantescas de live actions faz um streaming que mal tem dinheiro pra se pagar ainda assim decide investir um caminhão de dinheiro em algo que pode facilmente não funcionar. Mesmo com um universo extremamente rico em personagens, mitologias e histórias que facilmente funcionaria em uma série ou filme animado, seja ele em 2D, 3D ou até a mistura dos dois como vemos no espetacular Homem Aranha no Aranhaverso. Mas já que a moda é liveaction, vamos embarcar nessa missão suicida, e assim a Netflix depois de seis anos de produção traz as telas a série em live action Avatar: O Último Mestre do Ar, prometendo contar a história desse personagem de uma maneira nunca antes vista. Mas e ai, será que ela conseguiu?
Como um fã avido de Avatar desde que essa série foi anunciada eu já tinha decretado que não daria certo. Afinal muitos dos elementos que fazem a série Avatar ser tão boa é atribuído ao seu formato animado, e uma versão com atores iria exigir muito dinheiro e esforço e mesmo assim não conseguiria transportar a gente pra esse mundo.
Mas é com muita alegria que digo que eu estava errado (pelo menos em partes).
Mesmo com a saída dos criadores originais do projeto. A Netflix conseguiu se manter fiel a obra original sem fazer uma cópia de seus eventos. Cumprindo muito bem a função de não só retratar a maioria dos pontos importantes dessa história como aprofundar seu universo, folclore e personagens!
Avatar: O Último Mestre do Ar é uma viagem bem mais dramática e pesada do que sua série antecessora, e não tem vergonha de mostrar os terrores e pesados de seu mundo. A nação do fogo está cruel e impiedosa como nunca antes vista. Os terrores da guerra são presentes a todo momento e seus protagonistas exibem os traumas em seus rostos. Isso adiciona um ótimo peso a trama que na animação não tínhamos visto, alinhado com um visual deslumbrante e ótimas cenas de ação, a Netflix realmente conseguiu fazer algo quase impossível. Tornar um live action de Avatar de fato interessante.
Porém ao acertar no mais difícil ela acaba errando no mais fácil, que é a dinâmica e interação dos seus protagonistas. Algo que na animação é bem presente e extremamente bem explorado, aqui é algo vago e a trama que separa os protagonistas em quase todos os episódios e a inexperiência de seus atores não ajuda na hora de acreditarmos que esse trio realmente é uma família como eles próprios dizem.
A série também tem um grande problema de ritmo e diálogos expositivos. Tudo é explicado para a audiência a todo momento, perdendo a oportunidade dessa série de simplesmente mostrar os elementos mais importantes desse mundo, e volta e meia nós como espectadores somos pegos em mais um longo monologo explicando algum fator, o que também atrapalha a naturalidade e interação do elenco.
Mas mesmo entre os tropeços, Avatar triunfa e quebra finalmente a maldição de seu live action passado mostrando a nós fãs que é possível sim desfrutar de uma boa experiência independente da mídia se os seus produtores se mantiverem fieis, não aos detalhes mais minuciosos e sim ao mais importante que é a essência de sua obra original.